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Insônia: o que levar em conta

O  Brasil tem uma das maiores prevalências de insônia do mundo. Segundo o estudo Epidemiology of insomnia: prevalence and risk factors essa taxa é de 15% no país.


Foi com esse dado que Fernando Morgadinho, professor associado livre docente de neurologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), deu início à sua aula no do primeiro dia do Congress on Brain, Behavior and Emotions – Brain 2024, realizado entre os dias 26 e 29 de junho no Rio de Janeiro.


Segundo ele, a insônia é diagnosticada quando a dificuldade de dormir ocorre pelo menos em três noites da semana e está presente há pelo menos três meses. As consequências da privação do sono incluem déficits cognitivos, problemas cardiovasculares, redução da imunidade, estresse, ansiedade, depressão, obesidade, fadiga, pouca concentração e irritação.


No entanto, apesar da alta prevalência, Morgadinho afirma que é preciso que haja uma combinação de fatores par que a insônia ocorra. “A insônia não é para quem quer, é para quem pode”, brincou o especialista. Segundo ele, é necessário que haja um alinhamento entre fatores predisponentes, precipitantes e  perpetuadores.


Entre os  fatores predisponentes estão o gênero feminino, a idade, antecedentes pessoais, transtorno de humor ou ansiedade e história familiar de insônia. Já os fatores precipitantes são aqueles que desencadeiam o quadro, tais como luto, doenças, violência e problemas familiares. Os fatores perpetuadores por sua vez incluem hábitos inadequados, uso de substâncias como cafeína, álcool e medicações e transtornos do humor e de ansiedade.


Morgadinho enfatizou a importância do diagnóstico diferencial da insônia. Muitas vezes, segundo ele, o que o paciente relata como insônia, por exemplo, é o transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano tipo fase atrasada do sono e tipo trabalho em turnos. Dessa maneira, a pessoa dorme mais tarde e acorda mais tarde, mas tem um número adequado de horas de sono. Em outros casos, a dificuldade em dormir acontece pela síndrome das pernas inquietas ou por questões respiratórias.


Ele ressalta que idosos em geral dormem menos, mas que isso não deve ser confundido com insônia. “Muitas vezes o idoso é um dormidor curto e dorme 5 horas por noite, mas acorda ótimo no dia seguinte. Ele tem insônia? Não”, enfatizou o especialista. 


O tratamento da insônia tem o objetivo não apenas de melhorar a qualidade e quantidade do sono, mas melhorar também os impactos diários relacionados à condição. Ele recomenda como primeira linha de tratamento a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que “substitui conceitos errôneos, preconceitos e expectativas irrealistas sobre o sono, usando estratégia adaptativas de enfrentamento”.


Em outras palavras: entender as causas da insônia e modificar comportamentos e ambientes para favorecer o sono. Entre as medidas incluem-se estabelecer um horário fixo de sono e despertar, relaxar antes de ir para cama e estabelecer um ambiente propício para dormir, sem luzes e ruídos e com temperatura confortável. “O sucesso da TCC acontece porque ela dá valor às queixas que o paciente com insônia traz. Isso faz muita diferença  para entender esse universo”, explicou.





Por último, ele abordou a abordagem medicamentosa da insônia. De acordo com ele, a qualidade das evidências em relação à maioria dos medicamentos é baixa ou muito baixa e a recomendação para elas é fraca. No entanto, a escolha do sedativo-hipnótico deve levar em conta a menor dose efetiva, menor tempo de utilização e a melhor forma de administração, atentando especialmente para a melhora dos sintomas e tratando a causa da insônia sempre que possível. 

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