
Renata Rost Xavier
Graduação em enfermagem pela UNIPAC Uberlândia; pós-graduação em cuidados paliativos pelo Instituto Paliar; pós-graduação em gerontologia pelo Ensino Einstein; pós-graduação em oncologia pelo Hospital Oswaldo Cruz; enfermeira responsável técnica desde 2019 no Residencial Vida Nova para Idosos.
IDENTIFICAÇÃO
A.A.L, sexo feminino, 80 anos
Acolhida na instituição em 25 de agosto de 2022.
Diagnóstico – bloqueio do ramo direito, linfedema, dislipidemia, hipertensão arterial, insuficiência renal não dialítica, depressão, demência vascular. Parcialmente orientada em tempo e espaço.
A residente é viúva, aposentada, kardecista. Tem um casal de filhos, sendo que seu filho mora com ela. Recebe cuidados de uma cuidadora em alguns dias da semana.
Mantém um relação de convívio muita delicada e fragilizada com a filha. O filho, músico, desempregado no momento do acolhimento, além de morar no apartamento da mãe, também compartilhava de seus recursos financeiros. Com o passar do tempo, a residente apresentou declínio do seu quadro clínico, piora no quadro cognitivo, evolução da falência renal, perda da mobilidade, negligencia nos cuidados com a higiene, padrão alimentar irregular, desnutrição, hematomas, agitação física, isolamento social.
Diante de todos os impasses e dificuldade no manejo com o irmão, a filha decide buscar a mãe para um passeio e a traz para a instituição.
CONDUTA
Nos primeiros dias, a sra. A perguntava sobre sua cachorrinha e quando o filho chegaria de viagem. Não conseguiu verbalizar que não estava em seu apartamento, porém mantinha o discurso acerca do filho e do animal de estimação.
Os primeiros encontros entre mãe e filha foram delicados, repletos de palavras pesarosas da residente para a filha e a recusa de afeto e cuidados ofertados por ela. Recebemos diversas ligações do filho com palavras de baixo calão, regadas de emoções negativas e mal dizeres, até que finalmente resoslve conhecer a nova residência de sua mãe.
A filha permitiu que seu irmão permanecesse no apartamento em que morava com a mãe e passou a lhe enviar uma importância financeira para que não lhe faltasse nada e, dessa forma, ele fosse aceitando a institucionalização da mãe.
Foi realizada investigação acerca do quadro clínico com urologista, cardiologista e geriatra, traçando assim uma nova conduta farmacológica. Foi iniciada a realização de fisioterapia motora três vezes por semana. Os episódios de delirium diminuíram, o quadro de desnutrição foi ajustado. Houve grande melhora com a função renal de 3.5 para 1.5. Foi estabilizado padrão de sono.
Hoje a residente se apresenta estável em sua hemodinâmica, dependente para todas as atividades de vida diária. Mantém um relacionamento saudável com a filha dentro de suas limitações cognitivas. O filho a visitou apenas duas vezes. Infelizmente, o contexto nos remete a reflexões acerca de alienação, saúde financeira do idoso, negligência nos cuidados e relacionamentos familiares, temas recorrentes no universo do envelhecimento.
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